Artigo

Duas cadeiras postas lado a lado, para o mar

Hoje de manhã quis escrever um pouco o que vejo todos os dias, quando penso em ti. Quero oferecer-te o meu amor que triplica todas as manhãs. Mas quererás receber o que em mim é mais valioso?

Todos os dias podemos ser donos de duas cadeiras postas lado a lado para o mar, para o oceano.

Serão duas cadeiras velhas porque já foram dos nossos pais, dos nossos avós, de todos que se juntaram para se amarem de verdade. Foi por serem deles que permitiram que o amor que luto todos os dias e que nos uniu um dia naquelas cadeiras, se possa concretizar. Sem existir esse amor que foi passado de geração em geração, não existiríamos e não poderíamos ter conhecido os nossos corações, naquela troca de olhares especial e verdadeira, que me marcou para sempre, naquele dia único, lembras-te?

No entanto, poderás olhar o mar de vários ângulos, poderás querer conhecer novas ondas, deixar-me sozinho naquela cadeira e ires à procura da tua felicidade. Decerto já a encontraste essa felicidade no olhar de alguém sem ser o meu... Poderás rodar a cadeira para onde quiseres, esse é o significado da vida. Verás as ondas de forma diferente se achares que as que vês naquele sítio não são as mais perfeitas. No entanto a minha cadeira está pregada naquele sítio onde sabes que me podes encontrar, fica a saber que o meu único ângulo será sempre aquele em que poderei ver o teu cabelo solto, o canto dos teus olhos, as covinhas da tua orelha e do teu sorriso, enfim, a tua face perfeita ao meu lado, e com isso sentir o teu olhar apaixonado que um dia conheci.

Iria dizer-te nesse momento que o meu silêncio nunca foi falta de amor, mas sim excesso de te amar, que não aguento viver sem sentir a tua face junto da minha, a minha mão junto da tua, o meu coração junto do teu… No entanto resta-me a tua indiferença, meses sem uma palavra, e quando tenho coragem, mal interpretada…

Vejo as cadeiras ao longe que estão vazias, já foram nossas um dia, mas continuam ali no mesmo sítio. Estão delicadamente posicionadas da maneira mais apaixonada de todas, naquela que deixamos um dia no último segundo em que estivemos juntos, lembras-te?

Ainda é o teu cheiro que permanece na minha cadeira, a energia dos teus sorrisos que está acumulada nos pés que estão enterrados na areia. O meu coração ficou por lá também.

Tenho uma ferida grande em mim, que se abre todos os dias quando me sento a reviver esses momentos, mas não vai ser por isso que não me irei sentar todos os dias à espera que apareças e que cures essa ferida.

Sento-me todos os dias numa das cadeiras, à espera que um dia apareças no horizonte e coloques as tuas mãos nos meus olhos, vendando-os, e digas ao meu ouvido que me amas, que sintas a minha falta como eu sinto a tua.

No entanto chovia. Chovia muito nesta manhã. O sol de inverno deu lugar a uma chuva pálida, mas muito, muito intensa.

5 FEV, 2017 0

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